Imigração virtual

Nova fase da globalização


Imigração virtual

Um dos principais especialistas do mundo em comércio, Richard Baldwin, professor do Instituto de Graduação de Estudos Internacionais e do Desenvolvimento, em Genebra, na Suíça, vai na contramão dos seus pares.

Ele não acredita que a globalização esteja retrocedendo, mas entrando em uma nova fase ainda mais polêmica: a imigração virtual.

Em linhas gerais, imigração virtual são profissionais que moram num país, mas trabalham em outro, por meio de novas tecnologias: Skype, Facetime, softwares de trabalho coletivo, sala de reuniões online, equipamentos de tradução instantânea e até telerrobôs.

“A diferença de preços dos serviços entre nações ricas e países emergentes chega a 10 a 20 vezes. Veremos muito profissionais de Brasil, Argentina, Quênia, Ucrânia, Índia trabalhando para empresas em Nova York e Londres.”

Autor de “Globotics Upheaval” (A revolução dos robôs globais), Baldwin diz que a nova onda representará enorme oportunidade para trabalhadores das nações emergentes, mas também vai gerar mais revolta nos países ricos, favorecendo movimentos populistas.

O senhor costuma dizer que o futuro da globalização será muito diferente do que ocorreu nos últimos anos. Por quê? A globalização nada mais é do que uma arbitragem de preços. As empresas exploram as diferenças de preços para produzir ou comprar produtos onde são mais baratos e vender onde são mais caros.

Para lucrar, é preciso levar os produtos de um país ao outro. Por isso, até agora, entendemos a globalização como troca de produtos. Por exemplo: você planta café no Brasil e entrega de navio na Europa.

Vamos focar agora os serviços profissionais. Frequentemente, a diferença de preços de serviços profissionais entre as nações ricas e os países emergentes, como Brasil, Argentina, Quênia, Ucrânia ou Índia é de 10 a 20 vezes.

Até agora não era possível arbitrar esses preços, porque os serviços são vistos como não comercializáveis, pois exigem que as pessoas estejam frente a frente. Só que a tecnologia digital está tornando as pessoas mais próximas.

Como a diferença nos preços do serviços é muito alta e a tecnologia avança muito rápido, a globalização vai ser transformada pelo que chamo de imigração virtual.

O que é imigração virtual?  Comecemos por algo já bastante difundido: trabalhar uma ou duas vezes por semana de casa, sem ter de ir ao escritório. A imigração virtual é a mesma coisa, só que a nível internacional. Profissionais que moram num país e trabalham num escritório que fica em outro país.

Esse trabalho freelancer internacional já é relativamente comum em alguns setores, como desenvolvimento de software ou em grandes bancos. Nessas áreas, pessoas de um mesmo time estão situadas em países diferentes e se comunicam pela internet para fazer um projeto em conjunto.

Tenho um amigo na Suíça que desenvolve sites para empresas. Ele trabalha de casa ao lado de alguns computadores. Em uma das telas, está a imagem de um programador do Paquistão; na outra, um especialista em experiência dos usuários do Canadá; em outra tela, um designer uruguaio.

Eles trabalham juntos por alguns dias para fazer determinado site. Conversam o tempo todo e usam um software colaborativo. Mas, como o paquistanês está satisfeito em receber US$ 10 (R$ 39) por hora, o projeto fica muito mais barato do que se todos morassem na Suíça.

Já faz tempo que as empresas instalaram call centers na Índia ou que há colaboradores estrangeiros em empresas de software. Por que o sr. acredita que o fenômeno será mais generalizado e rápido agora?  Em meu livro, explico em detalhes quatro fenômenos que vão colaborar com o processo. O primeiro é a experiência das pessoas de trabalhar em casa. Nos EUA, isso é muito comum.

As empresas estão se adaptando com a adoção de novos softwares para tornar o trabalho de casa mais fácil. Essas mudanças abrem a porta para a imigração virtual, pois rapidamente as companhias vão perceber que dá para contratar um estrangeiro que vai cobrar muito menos.

O segundo ponto é a melhora das telecomunicações: a qualidade do Skype, do Facetime e de outras tecnologias mais sofisticadas. A possibilidade de reuniões virtuais. 

Há outra tecnologia bem divertida chamada de telerrobôs. Conto no meu livro a história de uma jornalista de tecnologia que trabalha no escritório em San Francisco, mas mora em Boston. Ela dirige o robô pela Redação e fala com as pessoas como se estivesse lá.

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