- Publicado em
- 28/12/2023
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Já pensou em se desfazer daquelas coisas que estão há anos no seu guarda-roupa, na sua casa, na sua vida que você nunca usa, como um meio de se sentir mais leve?
Essa é a ideia do minimalismo, uma tendência mundial que tem ganhado cada vez mais visibilidade.
Recentemente, a ideia de ser minimalista ganhou até documentário
O documentário Minismalism (disponível no Netflix) conta a história de dois rapazes que não estavam se sentindo completos, felizes e que resolveram tirar tudo que era sobra de suas vidas. A ideia deles foi só deixar o que tem valor. Não em relação ao valor monetário, mas sim no sentido e no propósito de possuirmos certa coisa.
Assistindo ao documentário, você pode pensar que é fácil começar a ser minimalista quando se tem tudo, quando se faz parte de uma classe que tem o poder total de escolha, quando se tem vários números na conta e já experimentou o gostinho de ter tudo o que queria. No entanto, essa tendência pode fazer muito bem também a classes menos favorecidas, pois nos desprendendo dessa necessidade de consumismo, de ter sempre mais, nos livramos de um peso desnecessário de querer alcançar uma vida digna de Hollywood — e que muitas vezes não faz parte do nosso contexto.
A sociedade moderna já se acostumou com o consumismo exacerbado. Ter pra falar que tem, ter pra suprir algum tipo de vazio e não porque aquele objeto em si é necessário. Um exemplo que podemos pensar é quando a Apple lança um novo aparelho e ele atrai multidões para sua pré-venda, ou em Black Friday onde se vê brigas por alguns produtos.
Minimalismo na televisão
O programa Menos é Demais, do canal Discovery Home and Health, mostra histórias de pessoas que exageram na hora de comprar, acumulando vários tipos de produtos. Nessas situações, podemos perceber a necessidade de preenchimento interior se manifestando exteriormente.
Um dos casos mostrados foi da dona de casa Rosiane, que tinha mais de 500 itens de cozinha e tudo de forma bem exagerada. Conversando com a consultora Chiara Gadaleta, Rosiane contou que fica o dia todo sozinha, que sente falta da companhia e da empatia que as pessoas da sua terra natal, Minas Gerais, tinham umas com as outras. Então esse acumulo de potes, panelas etc., era uma forma de ocupação que ela encontrou para sua própria vida.
Pensar em se ter menos numa sociedade capitalista pode parecer utópico, já que recebemos novas mensagens publicitárias diariamente. Constantemente, a mídia nos vende uma imagem de que quem tem mais é mais feliz. Uma imagem igualmente utópica.
O consumo tem relação com a felicidade?
Em março de 2017, escrevi um texto sobre sucesso. Quando perguntei para as pessoas o que significava ter sucesso, a maioria falou em felicidade, plenitude, equilíbrio em todas as áreas da vida. Muitas vezes sabemos que o dinheiro ou a posse de produtos não vai nos trazer felicidade total, mas quanto dessa sabedoria estamos levando para o nosso dia a dia?
Olhe sua lista de prioridades. Olhe nos seus objetivos do ano quantos deles estão ligados, direta ou indiretamente, a um consumo que poderia ser descartado?
Em 2016, segundo pesquisa do Serviço de Proteção ao Cliente, a principal meta dos brasileiros era de sair do vermelho (36,8%). Em seguida, vinha o desejo de fazer atividade física (34,3%), de comprar e/ou trocar de carro (27,6%) e perder peso (27,5%). Sendo que os principais motivos para as pessoas estarem no vermelho são parcelas a pagar no cartão de crédito e de cartão de loja.
Será que isso não poderia ser resolvido com uma vida mais minimalista?
Conversei com algumas pessoas que vivem uma vida mais consciente em relação ao consumo. Uma das coisas unânimes foi justamente conseguirem atingir objetivos que não conseguiam antes, como viajar.
“Um dia eu abri os olhos e percebi como eu tinha coisas e como estava sempre comprando o mesmo do mesmo. Nessa época, me dei conta de que gostaria de viajar e quando fui pesquisar preços, percebi que se eu parasse de comprar bobagens, conseguiria pagar as parcelas de viagem tranquilamente. Fui descartando o excesso, aliviando a bagagem e sobrou até o dinheiro pra tão desejada viagem. Hoje eu faço uma viagem por ano. Tenho menos coisas, mas vivo com muito mais intensidade. Valorizo o que realmente precisa ser valorizado. Mais uma bolsa? Mais um sapato? Mais uma blusa? Não, obrigada. Entendi que sempre haverá alguma coisa para encantar nossos olhos, mas essa coisa não precisa necessariamente vir pra minha casa. Aprendi a olhar, gostar e deixar onde está. E hoje minhas compras são apenas de reposição. Deu muito certo pra mim. Encontrei meu caminho no minimalismo.”
Adriana Siqueira
O que significa, então, ser minimalista?
Não pense que o minimalismo é não é ter quase nada. Você não tem que doar todos os seus itens de casa, não tem que jogar fora todos os seus sapatos e roupas, não é perder seu poder de decisão de ter o que quiser ou perder sua liberdade de escolha. Ser minimalista é consumir de forma mais consciente.
O que eu tenho gostado de conhecer nesse estilo de vida é justamente a liberdade que podemos ter em nossa vida. É tomarmos decisões baseadas em nossa própria felicidade. Isso não precisa, de maneira alguma, nos limitar.
“Minimalismo pra gente é desapegar. É libertador não depender de objetos, pessoas ou lugares para criar paz e felicidade em nossas vidas… As mudanças físicas foram enormes: reduzimos móveis, guarda-roupa, eletrônicos, utensílios em geral (banheiro e cozinha). As mudanças psicológicas, uau, essencialmente descobrimos o que queríamos em nossas vidas. Além de ser infinitamente mais econômico, saudável.”
Raranda Mararaj, que vive uma vida minimalista desde 2012.
Uma boa maneira de começar o minimalismo é se fazer algumas perguntas:
“Como estou levando a minha vida em relação ao consumo?”
“Quais estão sendo as prioridades em minha vida?”
E na hora da compra, que com certeza é um dos momentos mais difíceis, refletir:
“Eu realmente preciso disso?”
Começar a pensar de forma minimalista é repensar os motivos pelos quais você tem ou por que quer ter certas coisas. É olhar no que é vendido pela mídia e pensar: isso faz realmente sentido para mim? Isso vai me ajudar a alcançar meus sonhos ou, de certa forma, pode me atrasar?
Quantas vezes deixamos de viver nossos sonhos para viver os sonhos de outras pessoas? Sonhos que nos são mostrados, que nos são vendidos.
Além de fazer uma limpeza geral na sua vida, de te deixar mais leve, mais feliz, você pode doar para outras pessoas que precisem mais do que você. Diversas ONGs e projetos arrecadam roupas e materiais para pessoas menos favorecidas ou até mesmo para fazerem bazares beneficentes, o que pode ainda aumentar seu grau de motivação e satisfação.
O que importa em tudo isso é você estar bem consigo mesmo. É se ver como prioridade antes de qualquer coisa que você tenha e perceber que você não precisa de nada material para se sentir completo(a).