- Publicado em
- 28/12/2023
Carregando...
Muito se fala sobre as diferenças entre liderar e chefiar, como se fossem universos opostos que não se encontram. Defende-se que líderes são capazes de desenvolver pessoas e fazer com que a equipe evolua, enquanto chefes focam apenas os resultados. Agora, se alguém falasse que liderança e chefia se encontram, qual seria sua reação? É o que defende Mario Sergio Cortella, filósofo com mestrado e doutorado em educação. Para ele, liderar é uma arte que deve sim coincidir com chefia. Acompanhe essas e outras lições nesta entrevista exclusiva concedida por ele à revista Liderança.
Qual é a sua definição sobre liderança? Liderar é inspirar, motivar e animar ideias, pessoas e projetos. Desse ponto de vista, liderança é a capacidade de elevar para melhor uma condição coletiva. É por isso que não se deve confundir liderança com chefia. Chefes são ligados à hierarquia e não são os responsáveis por elevar uma equipe para o melhor, diferentemente do líder, que implica nessa elevação e busca constantemente isso.
Por que liderar é uma arte? Basicamente porque não é uma técnica. A liderança exige um conjunto de procedimentos e atividades. Nesse ponto de vista, ela também precisa da capacidade de saber fazer, da sensibilidade de saber perceber e da sabedoria de saber entender. Por isso, está muito mais ligada à arte que ao procedimento, pois é o refinamento da sensibilidade gestora, técnica e intelectual. Isso significa que uma pessoa não lidera tudo o tempo todo, mas ela sempre pode liderar nessas condições.
Pensando na liderança como uma arte, bons líderes já nascem com esse “dom” ou as competências podem ser desenvolvidas? Por quê? Acho que a capacidade de liderar tem elementos inatos, que vão depender da área para ser uma boa liderança, por exemplo: você pode nascer com sensibilidade olfativa de base genética, maior capacidade de sentir aromas, e poderá liderar uma equipe na área de perfumes com mais facilidade. No entanto, de nada adianta ter essa capacidade se ela não for colocada em ação, em circunstância e ocasião. Então, há uma base sim que precisa ser trabalhada e desenvolvida. Por isso, o líder não nasce pronto, ele se faz, se constrói. A base da liderança é genética, mas de nada adianta se não for desenvolvida, trabalhada e construída.
Muitos estudiosos afirmam que líder é diferente de chefe, mas você considera que chefia deveria coincidir com liderança. Por quê? Chefiar e liderar são formas de ascendência e autoridade sobre as pessoas, e a diferença é que chefia é um cargo e tem sua autoridade apoiada na hierarquia, enquanto liderança é uma função e tem sua autoridade baseada na admiração e respeito. É claro que há muitos líderes que são chefes, assim como há muitos chefes que são líderes. Para a chefia, vale a clássica frase: “Manda quem pode, obedece quem tem juízo”, já para a liderança, vale a ideia de procurar alguém que inspire vitalidade, que ofereça fôlego – é aquilo que eu desejo construir, fazer e edificar. Logo, chefe eu obedeço, e líder eu sigo e admiro.
Se um chefe tem um comportamento ditador, é possível que ele se transforme num líder? Ele precisa deixar de ser autoritário para reconstruir a autoridade, que é diferente de autoritarismo. Nesse ponto de vista, o chefe ditador só pode alcançar a condição de líder se tiver a compreensão de que só ensina bem quem é um bom aprendiz e de que a liderança se constrói dentro do trabalho coletivo. É preciso que a pessoa que deseje ser líder tenha permeabilidade a aprender, ouvir e seguir outras pessoas. Um ditador supõe que só ele está correto e, desse modo, ele não será líder, e sim um mero chefe.
Você costuma dizer que a liderança é algo circunstancial e episódico. O que você quer dizer exatamente com isso? Se liderar é ser capaz de inspirar, motivar e animar ideias, pessoas e projetos, sendo ela uma função, e não um cargo, então só dependerá da minha habilidade fazer com que isso aconteça. Você tem na equipe um grupo de pessoas com capacidades diferentes que pode assumir circunstancialmente a liderança, e essa tarefa pode ser de momento ou específica para alguma atividade.
Quais são as competências essenciais para liderar uma equipe?
Abrir a mente – O líder precisa ter a capacidade de perceber que o mundo muda e que é essencial mudar com ele. Tem de ser flexível no campo das ideias e das práticas e mudar o modo de pensar para poder melhorar sempre que necessário. Elevar a equipe – Líder é aquele que, quando cresce no campo da elevação do trabalho, valor e reconhecimento, faz com que todos aqueles que estejam ligados a ele também cresçam. Ele deve aproveitar as oportunidades para fazer a equipe evoluir. Inovar a obra – Não basta repetir o que já está sendo feito, o líder deve ir além do óbvio. Ele tem de ser capaz de dar vida e inovação constantemente àquilo que fazemos. Recriar o espírito – É preciso saber que um grupo necessita ter no trabalho um lugar para alegria e prazer. Seriedade não é sinônimo de tristeza, ou seja, um trabalho sério não significa ser triste. Por isso, é necessário criar circunstâncias em que o reconhecimento, a alegria e o bem-estar possam vir à tona. Empreender o futuro – Ser capaz não apenas de resolver o urgente, mas de cuidar do importante e não deixar sua condição de líder no momento presente.Por que a ética é uma referência perene para uma liderança? Porque ela é o horizonte para a liderança e proporciona uma vida coletiva saudável para todos. Uma liderança que não tenha a ética com esse ponto de vista deixa de ter vitalidade.
Para terminar, existe um líder ideal? Todos os líderes são ideais. Como ninguém nasce pronto, é preciso tornar real o líder que há em cada um de nós. Como o líder é algo a se realizar, desse ponto de vista, não existe um modo ideal de ser ou um único jeito de fazê-lo, mas atitudes que favoreçam isso.
Saiba mais sobre A Arte de Liderar no curso SapiênCia “Líder e Liderado”.
Fonte: Revista Liderança – www.lideraonline.com.br
Cristiane Dias é jornalista e escreve para as revistas VendaMais e Liderança.