Um incêndio de grandes proporções atingiu o Museu da Língua Portuguesa

O Museu da Língua Portuguesa, que traduz a alma do povo brasileiro, será reconstruído


Um incêndio de grandes proporções atingiu o Museu da Língua Portuguesa

Um incêndio de grandes proporções atingiu o Museu da Língua Portuguesa, na região central de São Paulo, na tarde desta segunda-feira. O brigadista Ronaldo Pereira da Cruz morreu ao tentar conter o início das chamas, que só foram controladas às 18h30. Pouco antes das 20 horas, o incêndio havia acabado e os bombeiros começaram a deixar o local. O museu fica no histórico prédio da Estação da Luz que também abriga um dos mais importantes terminal ferroviário da capital paulista. Durante quase três horas, era possível ouvir pequenas explosões vindas do telhado, e as labaredas chegaram a cinco metro de altura. (Veja como eram as instalações do museu)

— O incêndio começou no primeiro andar (do museu) e passou rapidamente para o segundo por conta da estrutura do prédio, que é basicamente de madeira — afirmou o comandante dos Bombeiros, Valdir Pavão.

De acordo com o Corpo de Bombeiros, a vítima fazia parte da equipe de brigadista do museu. Ao tentar apagar o incêndio, Cruz sofreu queimaduras nas pernas e no tórax. Ele chegou a ser levado ao Hospital das Clínicas, mas não resistiu aos ferimentos. A causa da morte foi uma parada cardiorrespiratória.

Um pavimento desabou no momento em que o governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP), que foi ao local da tragédia, falava com os jornalistas. O tucano lamentou a morte do brigadista e evitou falar sobre as possíveis causas do incêndio. Alckmin disse que o museu será reconstruído com a ajuda da sociedade civil.

— O Museu da Língua Portuguesa, que traduz a alma do povo brasileiro, será reconstruído. Vamos imediatamente tomar todas as providências. Unir de novo a iniciativa privada para reconstrução — declarou o governador.

Em nota, a Fundação Roberto Marinho, responsável pela concepção e implantação do museu, lamentou o incêndio e a morte do brigadista. A fundação também informou que já começou a trabalhar para recuperar o projeto.

“Já estamos acompanhando de perto a apuração das causas e unindo esforços para recuperar o imenso patrimônio que o museu representa. E assim esperamos continuar a celebrar o nosso "idiomaterno", termo criado pelo poeta paulista Haroldo de Campos e adotado pelo museu para dar a dimensão do nosso sentimento pela língua portuguesa”, diz a nota.

 

O arquiteto Pedro Mendes da Rocha, filho de Paulo Mendes da Rocha, um dos responsáveis pelo projeto do museu, foi ao local assim que soube do incêndio. Ele disse que o telhado em madeira e zinco favoreceram a propagação das chamas. Ele explicou que o prédio foi reforçado com estruturas de concreto para tentar minimizar o risco de incêndio por conta da grande quantidade de madeira, por se tratar de um prédio centenário.

— É uma tragédia que se repete. Em 1947, esse mesmo prédio foi consumido pelas chamas. A torre do relógio serviu como chaminé. Não imaginávamos que isso fosse voltar acontecer — lamentou o arquiteto.

O coordenador municipal da Defesa Civil de São Paulo, o engenheiro Milton Roberto Persoli, disse que não há previsão para liberar o prédio. Ele disse que uma das fachadas do edifício está condenada. Ainda de acordo com Persoli, ainda não é possível saber se a Estação da Luz, que fica no mesmo prédio, poderá funcionar na terça-feira.

— O prédio aqui está muito danificado. Acredito que esteja condenado — declarou Persoli.

O Museu da Língua Portuguesa não estava com com o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB) nem alvará de funcionamento da Prefeitura de São Paulo em dia. Em nota, a Prefeitura de São Paulo disse que a documentação para o funcionamento do local estava em análise apesar de funcionar desde 2004.

— A parte dos bombeiros não estava regularizada. Faltava a apresentação de projeto para posterior vistoria e emissão do auto. O prédio tinha pendências em relação à estrutura de combate a incêndio e isso será considerado na investigação do acidente — afirmou o comandante do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo, o coronel Rogério Duarte.

No entanto, o ofício número 056/310, de 2006, assinado pelo então comandante do Corpo de Bombeiros, coronel João dos Santos de Souza, atestou que o prédio estava “com todos os sistemas e equipamentos de prevenção e combate a incêndios instalados e em funcionamento, tendo sido testados por ocasião da última vistoria”, embora o AVCB não pudesse ser emitido em função de “pendências verificadas nas dependências da estação da CPTM”.

 

SISTEMA DE TRENS É AFETADO

O Museu da Língua Portuguesa fica na Praça da Luz e, às segundas-feiras, fica fechado ao público. Segundo a Secretaria de Estado da Cultura, a sede administrativa fica em outro endereço. Por volta das 18h, uma pessoa subiu no telhado do prédio e caminhou em direção as chamas.

Ao lado do prédio, fica a Estação da Luz, importante ponto de intercessão entre metrô e trem no centro de São Paulo. O incêndio afetou a circulação dos trens da Linha 7, que foi paralisada entre as estações Luz e Barra Funda, e da linha 11, entre a Luz e a estação Brás.

Segundo a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), a ala do prédio destinada ao funcionamento da estação de trem não foi atingida pelo fogo. Ela foi fechada, entretanto, a pedido dos bombeiros, por questão de segurança devido à fumaça tóxica.

 

ACERVO DIGITAL

Em entrevista à "Globonews", na tarde desta segunda-feira, a coordenadora de conteúdos e roteiro do museu, Isa Grinspum Ferraz, classificou o incêndio como uma "tragédia".

Ferraz disse considerar o espaço "revolucionário", não apenas pela "tecnologia e pelo formato", mas pela forma de "encarar a língua portuguesa no Brasil para um público amplo".

— Era um museu democrático — disse.

Inaugurado em março de 2006, o museu é um dos mais visitados do Brasil e da América do Sul. Ele foi concebido e implantado pela Fundação Roberto Marinho, instituição ligada ao Grupo Globo, graças a convênio com o governo de São Paulo, responsável pela gestão. Ferraz afirmou que existem cópias de segurança da maior parte do acervo digital do museu.

— Tem que ver em que estado está, para saber o interesse tanto da fundação (Roberto Marinho) quanto do estado de São Paulo de rever isso. No mínimo, toda a pesquisa e os roteiros a gente tem. Precisamos aguardar um pouco para ver como isso vai andar — afirmou.

 

OUTRO INCÊNDIO EM 1946

O edifício da Estação da Luz já havia passado por um incêndio de proporções parecidas na madrugada do dia 6 de novembro de 1946, quando o relógio da Luz foi completamente destruído pelo fogo, bem como toda a estrutura dianteira do edifício. A escassez de água atrapalhou o trabalho de salvamento naquela manhã, e os bombeiros chegaram a recorrer às águas do lago da Estação da Luz para abastecer as mangueiras. O fogo irrompeu na seção de Contabilidade da Estação por volta das 2h e rapidamente se alastrou, só sendo controlado às 7h. Dois bombeiros ficaram feridos. A Estação só seria inteiramente reconstruída em 1950.

O projeto de implantação do museu e restauração do prédio da Estação da Luz custou aproximadamente R$ 37 milhões, segundo dados oficiais. O projeto arquitetônico é de Pedro Mendes da Rocha e Paulo Mendes da Rocha.

 

TECNOLOGIA DE PONTA

O espaço era considerado um dos mais modernos da cidade de São Paulo, por apresentar forma expositiva com uso de tecnologia de ponta e recursos interativos para a apresentação de conteúdos.

Além de uma exposição do acervo permanente, o museu apresentava desde 20 de outubro a exposição "O tempo e eu e você", sobre um dos maiores pesquisadores do folclore e da cultura popular brasileira, Luís Câmara Cascudo. A exposição seria exibida até fevereiro de 2016.

Uma segunda mostra tinha sido aberta há uma semana, com 100 charges, caricaturas e quadrinhos selecionados do Salão Internacional de Humor de Piracicaba.

— Pelo que vemos das imagens da televisão, tudo deve ter sido destruído. Mas eram reproduções, os originais não estão lá — afirma o cartunista Eduardo Grosso, funcionário da Secretaria Municipal da Ação Cultural de Piracicaba que participa da comissão organizadora do Salão de Humor.

 

A exposição foi inaugurada no último dia 15 e ficaria em cartaz até 28 de fevereiro.

— É lamentável isso ter acontecido. Ao menos, o Museu da Língua tem um padrão de não guardar acervo. O que deve se perder são os equipamentos, que têm um custo alto, mas podem ser substituídos — completou.

 

— (O museu) foi fruto do trabalho de muitos anos de uma equipe multidisciplinar de altíssimo nível, que trabalhou junta para criar uma coisa completamente nova. Ele mudou o paradigma dos museus no Brasil e mesmo fora do país, ele era uma referência internacional — resumiu a coordenadora.

Fonte: http://oglobo.globo.com/brasil/brigadista-morre-em-incendio-no-museu-da-lingua-portuguesa-18345148

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